quarta-feira, 24 de julho de 2024

Aproxima-se o dia 3 de Agosto, o mais triste dos dias. A vida continuou, os anos passaram, ficámos velhos. Talvez seja como o Cristianismo quando morreu, e nos deixou a pedra, a pintura e a palavra, e nos lembra alguma coisa de belo que já não compreendo.  

Devia voltar a ler alguma coisa, porque não era exactamente isto que queria dizer, ou desta forma. 

Não queria cair na vulgaridade, ao ver as fotografias... como está agora... envelheceu, tornou-se feia, tento resistir ao "ia morrendo por uma coisa destas?"...à degradação de alguma coisa que tomei como eterno, sagrado, uma doçura que gostava que só morresse no último instante da minha vida. Mas essa não é a minha natureza, e a vaidade que sinto ao passear com a minha mulher na rua é demasiada, assim como a recordação da maldade, da imbecilidade... uma alma baixíssima, nisso somos iguais, mas não era isto que eu queria dizer.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Um amigo que fiz nos tempos do meu curso de Clássicos - curioso como a minha decisão de regressar a Portugal naquele momento teve consequências tão inesperadas - convenceu-me a publicar. Trabalha numa dessas editoras grandes que parecem existir. Quero uma coisa pequena, sob pseudónimo, uma coisa quase clandestina, sem concursos, referências, publicidade, absolutamente nada. 50 exemplares e já são muitos. Talvez para o ano esteja pronto editado. O resto é absolutamente indiferente. 

terça-feira, 16 de julho de 2024

O que mais me espanta é viver sem mágoa, ter desaparecido... há ainda um dia, uma ocasião, em que aquela força oculta me visita e esmaga... não é fácil descrever, uma tristeza profunda... mas rara. Talvez seja passageiro. Reli uma tradução que fiz, um poema grego, em que o primeiro verso é a promessa dum lamento eterno... mas é cada vez mais ténue. A voz, ainda me soa com uma clareza extraordinária, as memórias do sexo... pouco mais, de resto, aqueles vislumbres da vida que continuou, a crueldade do tempo no rosto. Entristeceu-me profundamente tê-la visto assim tão feia, tão vulgar, imbecil. Parece-me que a vida não lhe deu grande coisa. Acontece. Tanta maldade, tanto mal desnecessário, tudo tão desnecessário, a doença do nosso tempo.

Por aqui, lá vamos visitar as igrejas da Peste e ver aquele testemunho do Tintoretto, mês que vem, haja vida e saúde. A minha senhora já planeou tudo: Bosch, Giorgione, Ticiano, e o que ela quiser. Antes, largamos a peste que está aqui connosco em Vienna, partimos os 3 no comboio nocturno de Amsterdão, uns dias por lá, uma visita rápida a Innsbruck, ligação para Verona, passeio pelo Veneto, e uma semana extra em Turim, que ando a namorar uma casita por lá e o Verão está horrível por estas bandas.