terça-feira, 26 de setembro de 2023


 

Falando em espíritos nobres, passaram trinta e dois anos desde o nascimento desta canção. Aqui, num dos seus registos mais bonitos, já a luta com a heroína e a solidão ia longa. São coisas que cansam.

domingo, 24 de setembro de 2023

Deu-me outra vez para o Céline. Comprei o que pude, novas edições, biografias, raridades para turista, enfim. Encontrei um documentário holandês com quarenta anos, começa logo com uma calinada das grandes, mas não é mau de todo, e tem a ironia de ser conduzido por um paneleiro enojado com a literatura e o espírito da Holanda. Lê algumas passagens, quando o Bardamu se despede da Molly, aquela homenagem a Joyce e, por inerência, a Homero. Dei por mim a pensar que à Molly que conheci e esmaga a minha vida, uma puta envelhecida de escritório, teria a dizer que a amaria até à morte, é verdade, e que lamento muito não ter passado os últimos dez anos a foder com ela. Outros lá andaram e andam, uma mulher que monta um leucémico em estado terminal é um prodígio, uma raridade, e a perda de um tesouro desses sente-se como uma grande morte, o fim duma época, ao ponto de um tipo estar disposto até a esquecer aquelas recensões a restaurantes que andou a escrever, aquelas saloiadas de citar um espírito tão nobre como o Kazantzakis só porque num Verão qualquer deu o cu no Egeu, tudo isso se esqueceria se um dia pudesse ter de novo uma mamada da senhora advogada. Uma verdadeira viagem ao mundo da verdade, uma mamada daquelas.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Um roteiro por algumas coisas da minha vida, a praça Clichy, onde começa a Viagem, a rua Lamartine, há treze anos ficámos lá hospedados, novamente o final do Amante, estava em destaque naquela livraria a meio das Tulherias, não me lembro o nome, e ao lado dele Rabelais, edição completa. Passeios pela praça onde o Eco morava, e o Llosa tem por lá um boteco também, ninguém como os intelectuais de esquerda para topar espaço imobiliário premium, dois milhões de euros um apartamento de 90 metros quadrados, assim vale a pena lutar pelo povo, ali perto o refúgio do Joseph Roth, até tirei uma fotografia, creio que seria um pouco mais modesto, mulheres bonitas, um cheiro a mijo por todo o lado, um metropolitano sujo e abafado, sem-abrigo em cada rua, remessas de pretos a deitados no chão ou entretidos a tocarem nas campainhas das bicicletas a meio caminho da Bastilha, uma inumanidade, é a luta pelos povos, ao que parece, livrarias razoáveis, passei um par de vezes pela portuguesa-brasileira, comprei umas coisas, lá ao pé, estávamos nós sentados num jardim e apareceu um rebanho de telemóvel em punho a fotografar a porta dum prédio, ao que parece uma série qualquer foi lá gravada, é o que há, e a esplanada dum café, foram para lá balir e não nos dava para ler, pelo menos  a comida asiática não está má, a minha mulher ganhou uma série de admiradores, e há um par de pastelarias novas e decentes; amanhã, ala para Haia, que 5 dias aqui chegam-me bem. Vir aqui entristeceu-me muito mais do que esperava e de uma maneira avassaladora, e não creio tê-lo escondido muito bem. Deixei a Duras lá na estante.

sábado, 9 de setembro de 2023

Treze anos depois, um outro aniversário em Paris. Com mais dinheiro, mais prémios, mais cicatrizes. De resto, nada mudou. 

Tenho-me lembrado muito do final d'O Amante. Sim, nada mudou, mas aqui não haverá telefonemas a dizê-lo - talvez, se tivesse havido um pouco mais de dignidade em mim, talvez. Mas, é tudo igual. E será assim até à morte, porque não consigo que seja de outra forma.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A ler O Primo Basílio, ao fim de cinco capítulos, vem novamente aquela impressão  um certo desgosto, memórias dos tempos de escola - o Eça era um escritor pouco mais do que medíocre. Salvam-se As Farpas...as melhores são as do Ramalho, mas, enfim. É um português terrível, um estilo que valha-me Deus, uma cópia manhosa dos franceses. Felizmente, a literatura, a língua, é coisa que já não chateia ninguém.