domingo, 24 de setembro de 2023

Deu-me outra vez para o Céline. Comprei o que pude, novas edições, biografias, raridades para turista, enfim. Encontrei um documentário holandês com quarenta anos, começa logo com uma calinada das grandes, mas não é mau de todo, e tem a ironia de ser conduzido por um paneleiro enojado com a literatura e o espírito da Holanda. Lê algumas passagens, quando o Bardamu se despede da Molly, aquela homenagem a Joyce e, por inerência, a Homero. Dei por mim a pensar que à Molly que conheci e esmaga a minha vida, uma puta envelhecida de escritório, teria a dizer que a amaria até à morte, é verdade, e que lamento muito não ter passado os últimos dez anos a foder com ela. Outros lá andaram e andam, uma mulher que monta um leucémico em estado terminal é um prodígio, uma raridade, e a perda de um tesouro desses sente-se como uma grande morte, o fim duma época, ao ponto de um tipo estar disposto até a esquecer aquelas recensões a restaurantes que andou a escrever, aquelas saloiadas de citar um espírito tão nobre como o Kazantzakis só porque num Verão qualquer deu o cu no Egeu, tudo isso se esqueceria se um dia pudesse ter de novo uma mamada da senhora advogada. Uma verdadeira viagem ao mundo da verdade, uma mamada daquelas.

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