domingo, 30 de julho de 2023

Fomos até ao museu de história moderna da Áustria - sinceramente, porque fica no mesmo edifício do Museu de Éfeso, e porque estava calor. Dei por mim a pensar naquelas criaturas que nasceram súbditos do Império, acabaram anexados pela Alemanha, e ocupados pela União Soviética - que deuxou um mamarracho horrível no centro da cidade. Mas isto é conversa muito batida.

De volta a Haia e ao queixume: mau tempo, comida má, farto do meu trabalho, um lugar aborrecido até à morte. No twitter encontro um video na conta dum jornalista ucraniano com a mensagem do preço da guerra: um soldado, jovem ainda, registou a própria morte em video, abatido com um tiro no pescoço. Ainda pediu ajuda, mas foi um sopro, dez segundos e estava morto. Em Vienna, há muito carro de luxo de matrícula ucraniana, e por aqui, pelo Statenkwartier, continuam alguns com os seus Porsches e Ferraris. Não me parecem muito preocupados.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Jornadas

Parece que, no Norte de África, se levanta uma grande comoção entre os aborígenes a propósito do turismo católico numa capital de terceiro mundo. Que se gasta muito dinheiro, que é crendice, que o Estado, santíssimo seja, não deve patrocinar eventos de feiticeiria, e tretas do género. A tirada mais imbecil que li é a de que a Fé é uma coisa íntima, como o comprova a história da Humanidade. Tenho dificuldades em compreender como se pode ser tão estúpido. Ajuda, claro, ajuda muito, uma ignorância olímpica do que é a Igreja, ou o que resta dela, da sua irreverência, da sua história, do seu legado, herança, ou origem. Quanto a progressos e evoluções, dois séculos de modernidade já nos esclareceram da bondade dos novos deuses. E, o mais absurdo, todo este triste espectáculo montado após dois anos de cretinice apocalíptica, como boas testemunhas de Jeová que são, de esbanjar à tripa forra dinheiro em máscaras, subsídios, vacinas, reforços, desinfectantes, de nada vai ser como dantes, e sei lá mais o quê. É o que há.

terça-feira, 25 de julho de 2023

As pessoas gostam de imaginar aventuras, tiros, perseguições, mulheres, casos, tabuleiros internacionais, grandes interesses em jogo... coisas do cinema, quando o trabalho de um serviço de informações é, no essencial, ler emails, mensagens, horas em frente ao computador, abrir novas fontes... e nem tudo são interesses geopoliticos. Os franceses, por exemplo, espiam tudo e mais alguma coisa... fui dar com uma no meu emprego... mas estou a falar disto para quê. Hoje passámos horas a ver O Beijo do Klimt, e eu sinto-me sempre tão feliz em Viena. 

sábado, 22 de julho de 2023

Até que a morte me separe

Comprei a praia de Chesil para ler três ou quatro páginas. Quando se salta de país em país, reconstruir bibliotecas torna-se cada vez mais aborrecido, como tudo o resto, e caro. Enfim. Ao contrário da personagem masculina, eu espreitei aquilo que o tempo fez à minha noiva perdida - e não foi bonito -, tive sempre vontade de falar com ela, de saber os detalhes da sua vida, porque, como está lá escrito nas últimas páginas, por tão pouco se pode alterar o rumo da vida de maneira decisiva. Coisa assim. Também tive um casamento mais ou menos falhado, como a personagem da qual nem me lembro o nome, pouco me interessam esses detalhes irrelevantes, e essa mania de dar significados ocultos a nomes de animais e coisas, nem uma beleza rara salvou aquele mundo, e agora aqui estamos, eu e a minha mulher, esta brasileira de capa de revista, que conheci quando decidi regressar a Portugal, num plano imbecil de, pelo menos, tentar conversar... 

Não sei se será punição que alguém a quem o tempo tirou toda a beleza e, segundo pude ver, qualquer vestígio de bom gosto, inteligência, ou curiosidade pelas coisas belas, me ocupe tanto o espírito, e torne a minha vida numa constante recordação, mas a verdade é que o faz. Não se entende. 

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Praga

 


Gosto de vir a Praga


A livraria Shakespeare fica junto a este hotel, um encontro fortuito e que resume bem o melhor que a cidade tem: os livros e as conas. E que conas, meu Deus.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Vou vendo umas notícias, umas coisas no twitter... uns cretinos a baterem palmas e a grunhir à entrada duma taberna de Lisboa qualquer onde entrou o não sei quê de Cuba - mesmo assim, não tenhamos dúvidas, bem menos imbecis do que o bronco que vai a Cuba em turismo, um passeio que é um atestado de imbecilidade absolutamente infalível -... os músicos no Porto que pedem sei lá o quê... a crise habitacional, os médicos corruptos e imorais, um pleonasmo... é uma coisa estranha. É uma coisa estranha.

sábado, 15 de julho de 2023

Werckmeister Harmonies

For across the sun’s glowing sphere, slowly, the Moon swims away. And the sun once again bursts forth, and to the Earth slowly there comes again light, and warmth again floods the Earth. Deep emotion pierces everyone. They have escaped the weight of darkness. 

terça-feira, 11 de julho de 2023

No último sábado, uma companhia de teatro amador inglesa levou à cena Os Dias Felizes do Beckett. Não fui, tosse, uma infecção respiratória, não estava para fazer figuras, uma sala pequena, trinta ou quarenta pessoas. Enquanto esperava o meu amigo, esse foi, só me recordava daquela noite em que dizia a alguém de quem gostava muito, para abrir a tradução do Inominável na página 123, que tinha uma passagem lindíssima sobre as palavras. Curioso, como só me esqueci do texto. Tudo o resto permanece, duma forma estranha, mais ou menos igual. Claro que há toda esta tristeza por tudo o que se perdeu, quero dizer, perdi, que as pessoas seguem em frente, como se diz, por não poder repetir o pedido, por não poder voltar a ouvir aquelas palavras pela voz dela, e ter o seu rosto e o seu corpo nu de novo ao meu lado, por não haver mais palavras. Sim, isso é diferente.

O velho editor tinha razão. Sem inferno, um homem não tem nada para dizer. Esta vida medíocre, de reuniões estúpidas, tarefas fúteis, capuccinos, croissants... no outro dia, um acontecimento, o tram 17 retomou o percurso normal, entre o Statenkwartier e Wateringen... volta a parar junto a um sushi de que gosto.... enfim. Para a semana, estaremos em Praga por uns dias, depois Viena, o túmulo do Arquiduque, o Danúbio, os gelados, uma ou outra livraria, as recordações e nada mais. Alguma música, por certo.

 E, com isto, talvez se comece a escrever alguma coisa decente por aqui. Se não, pouco importa.