segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Ainda pensei em ir ver os meus pais. Habituado ao comboio, comecei a ver os percursos de Amsterdão a Lisboa. Para cá, vim num dos últimos que fazia a ligação até ao País Basco, acabaram com ele, pena. Até Madrid, um descanso; tracei até uns planos, uns dias em Montpellier, um fim de semana em Barcelona, uma visita ao Prado, nem preciso de pedir dias, um tipo no comboio sempre faz alguma coisa, mas, para Lisboa, impossível. Horas e horas de viagem. Dou uma vista de olhos nas notícias e a realidade anda a bater à porta, uma miséria ao estilo búlgaro, serviços a cair aos bocados, um país de terceiro mundo, sem remédio, os putos a emigrarem para fugirem aos salários mais baixos da Europa, a escumalha do costume no gamanço, e por aí afora. É uma desgraça.

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

That vague sense of longing

 


A minha mulher, com aquele talento para a filmografia que Deus lhe deu, gravou, contra a minha vontade, a canção pop de que mais gostei nos últimos anos. Saiu-lhe na vertical. Foi em Abril, já, no concerto dos Monkeys em Linz. Fomos em família, em ex-família, enfim, modernices. Há uma coisa que não me sai da cabeça. Ao lado dela, uma rapariguinha, com uns 17 anos - para meu espanto, grande parte do público tinha a idade que eu tinha quando comecei a ouvi-los -, de máscara - a única pessoa de máscara dentro do pavilhão - e com os braços marcados por cortes, por exercícios de auto-mutilação. Parecia muito feliz, sabia as letras de cor, dançava, gritava, e aqueles eram os lugares mais caros (não muito) - e parecia bonita. E é só isso.

domingo, 6 de agosto de 2023

Claro está, comecei a encontrar reflexões sobre as palavras do papa ateu, que giram à volta da mesma burrice de sempre, esquerda, cristianismo, socialismo, uma misturada produzida pela vara de analfabetos que é a classe média portuguesa nas redes sociais - Portugal é um dos países mais atrasados e a sua população uma das mais imbecis que se pode encontrar na Europa. A lombriga mexe e remexe, e não conhece sossego. As coisas nem são assim tão complicadas. Há uns anos, publicou-se um livro, A Casa do Governo, dum Yuri qualquer coisa, que dedica um capítulo à história das ideias e procura situar os devaneios do século XIX na linhagem do Cristianismo, em particular no seu carácter messiânico e redentor - que, e nem precisávamos das profecias de Dostoievski - haveriam de desaguar no festim homicida do século XXI. São poucas páginas e valem a pena. Melhor seria ir às fontes e pensar um bocadinho - mas isso já me é pedir muito.

sábado, 5 de agosto de 2023

A lombriga

Parece que o estou a ver, o labrego da classe média, média-alta, que vai à secção de História da Fnac, compra o Público e vê o Telejornal. Um prodígio de ignorância e estupidez. Olha para a televisão, olha para este papa ateu, e opina: a Inquisição, as crianças, a ciência, o Giordano Bruno, as trevas, os gastos, o palco... move-se na informação como um oxiúro, agita-se, contrai-se, repete o que lê, o que ouve, um bailarino sobre a merda. Dão música ao parasita e num instante instala-se a ascaridiase. Coça-se o cu e sofre-se uma arenga. É um fado triste, o nosso.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

E, neste dia 3, parece-me a canção mais adequada. É como aquele poema grego, O Monograma, mas com eletricidade e amplificadores, ambos a mesma tristeza, a mesma saudade, a mesma perda.

3 de Agosto

Só eu recordo esta data, e é assim que deve ser. Passaram 12 anos e passam cada vez mais depressa.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Semanas de tosse depois duma infecção respiratória. Segundo a médica, é capaz de durar até Setembro. Qualquer ligeira perturbação causa-me dores de garganta, uma recordação, digamos assim. Ao fim e ao cabo, acaba por ser um resultado justo, sem moralismos.