É muito estranho. Anos e anos... vivi para recordar. Madrid, no fim do ano, para lembrar a viagem que fiz com ela.. este ano não gostei, tive febre, a viagem de regresso foi mais demorada... nem tudo foi mau, o Greco, o Escorial, Toledo, mas foi tempo a mais, aborrece-me a vida de hotel e restaurantes. Comprei uns livros engraçados, ao menos isso. Talvez volte noutra altura, quando houver alguma coisa no Prado. Em San Sebastian consegui ir à missa, um sermão muito bonito, o Bom Pastor... foi o que eu disse à minha mulher, que ela foi o meu Bom Pastor, que me reconduziu a Belém, ao Nascimento. E ela é extraordinariamente bela, creio, ao fim e ao cabo, que Nosso Senhor deve ter perdido a paciência comigo, ao me ter dado a vontade de vasculhar fotografias, de ver o que o tempo fez à L., como está destruída, imbecil, feia que mete dó... e como eu tenho passado meu tempo com um verdadeiro tesouro, como temos percorrido o Velho Mundo de comboio e mochila, como peregrinos, atrás das igrejas, da pintura e da música. Como é estranho estar livre duma dívida que nunca quis contrair, e como isso é bom.
Morrer de sede no oceano
domingo, 19 de janeiro de 2025
quinta-feira, 2 de janeiro de 2025
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Não há criatura neste mundo mais bondosa, mais pura e generosa do que a minha mulher. Viu, hoje, à distância, a mãe ser enterrada. Morreu ontem, cancro no rim, uma crueldade aos cinquenta e quatro. Viajou para o Brasil no princípio do mês, queria morrer lá, já o sabia.
Há rostos de tristeza que nunca esquecerei.
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Mas, também não resisto, e vou ver umas fotos antigas, com treze anos... como era bonita, a L. Nunca, em nenhum momento, encontrei uma beleza tão profunda, tão tocante, com a qual, para citar o príncipe doente, se podia salvar o Mundo. Duma beleza assim nunca se sai, por mais que se tente. Talvez precise de mais uns anos. Talvez.
Amanhã, vamos para Londres. Para celebrar os 35 da minha consorte, uma semana na National Gallery, no Tate, no Saque de Atenas, nas livrarias e cafés da cidade. A ver se mais ninguém morre, que também era bom aproveitar um bocado.
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
Pelo menos, tenho tido sonhos cómicos. É sempre a L., sempre uma discussão absurda, e já passaram tantos anos, já estamos velhos, distantes, e tenho a certeza que já se esqueceu de mim, mas não importa. No último, estava irritada comigo, repetia e repetia de que agora tinha um namorado muito melhor do que eu, muito mais bonito, muito talentoso, inteligente, só qualidades. Lembro-me de dizer que sim e de me rir, e de isso só aumentar a irritação dela. Pouco me interessa que já não seja bonita como nos sonhos que vou tendo. Vamos morrendo, e a alegria que me resta é a sua memória.
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